Também não gosto de ver os sem-terra invadindo fazendas, parando estradas, ocupando linhas de trens, quebrando repartições públicas. Mas não gosto também, igualmente e com o mesmo nojo, que existam sem-terra, que existam sem-teto, que existam sem-nada. Me dá muita raiva existir tudo isso e ao mesmo tempo existir FDPs que têm fazendas roubadas por grilagem e mantidas por capangas armados, fazendas tão grandes que chegam a ser maiores do que alguns países. E muitos desses fazendeiros de que eu não gosto estão posando de honestos (embora alguns nem se dêem a esse trabalho) nas câmaras e no senado.
Eu acredito sim em cotas para negros e índios. Dizem que isso é outro tipo de racismo. Mas para mim racista é também quem julga negros e índios capazes de competir com os brancos em pé de igualdade sem terem nunca estado em pé de igualdade. Essa “defesa” da capacidade de negros e índios de competir com os brancos pra mim é pura demagogia de quem quer que as coisas continuem como sempre foram. Brancos com toda condição de sair na frente, negros e índios com milhões de dificuldades com as quais os brancos nem sonham e nem querem sonhar! Também acho que a cor da pele não pode servir de pretexto para discriminar, só que sei muito bem que serve. Não sou cega, não fecho os olhos pro preconceito como se ele não existisse posando de defensora de uma igualdade falsa, uma igualdade que deveria existir mas não existe. Tem hipócrita demais fazendo de conta que preconceito não existe pra discursar contra as cotas, isso me dá raiva!
Será que é tão bom assim fechar os olhos para o fato de que um negro ou um índio para chegar onde um branco pode chegar não precisa ser tão bom quanto o branco? (isso eles são sem esforço) precisam ser melhores, muito melhores! Fala-se demagogicamente de privilégios imerecidos, será imerecido mesmo? Aliás, será mesmo privilégio? Se o Rui Barbosa não tivesse queimado todos os documentos sobre a escravidão nós teríamos é que estar agora indenizando os negros pelos prejuízos incalculáveis que sofreram sob nossos chicotes e nossas leis. Será que não cai a ficha para os branquinhos “sem preconceito” que cota não tem nada a ver com privilégio? E muito menos com privilégio imerecido?!
Quanto às cenas ridículas de brancos querendo se passar por negros, isso é apenas mais uma amostra, entre tantas e tantas, da desonestidade nata de muitas pessoas, as mesmas muitas vezes que gostam de posar de indignadas diante da desonestidade dos nossos políticos. É o macaco sentando em cima do próprio rabo pra criticar o rabo do macaco do lado, como dizia sabiamente minha mãe. Só porque muita gente não consegue ser honesta, vamos agora acusar todos os negros de privilegiados sem mérito! E vão me dizer que isso não é preconceito!
Eu também não quero ouvir mais noticias de horrores do crime da vez que ajuda a vender jornal, a enriquecer a globo e que as pessoas acompanham com o mesmo interesse fútil com que acompanham o besteirol global chamado BBB. A estupidez não tem limite! Até indignação tem que ser com o que está na moda. Aliás, qual é agora o crime da vez? Também não acredito em nada. E não acredito nessa indignação de fachada que dá tanto ibope e de que depois de três meses ninguém mais se lembra.
Estou sim cansada de quererem me culpar por ter onde morar, o que comer e o que vestir, mas estou ainda mais cansada de quererem me culpar também pelo crime e pela catástrofe da vez. É sempre a mesma frase empoeirada: “Deus não é culpado, os culpados somos nós.” Não importa o que seja, é ruim? Mata gente? Traz sofrimento? Então não é culpa de deus, é culpa minha! Já estou passada de raiva de ficarem jogando essa culpa toda nas minhas costas! Não criei nenhum ser vivo do nada, muito menos o mosquito da dengue! Não consigo abalar de forma que impressione nem mesmo a cama onde durmo e vêm querendo me culpar pelos terremotos! Ah, essa pobre gente amortecida e emburrecida pelos discursos acéfalos de padres, rabinos, pastores e similares! Essas pessoas me causam tanta pena! E os lavadores de cérebro me causam tanta raiva! Tô de saco cheio de ouvir discurso vazio!
Estou mais embrutecida do que esse cara do texto. Patriotismo não me comove. De que adianta mostrar amor pelo Brasil se ele tem que vir atrelado ao sentimento de que o outro é inferior? Todo patriotismo é um preconceito. A frase não é minha, mas acredito mesmo nela. Não sou patriota e queria que não existisse pátria! Não, a menina de que ele fala não é a ultima brasileira patriota, infelizmente. E eu gostaria muito que mais gente deixasse essa frescura de patriotismo pra lá e pensasse mais em mundo.
Oi!, Atenção! Acorda! Do outro lado da fronteira também tem gente!
Mesmo que ela seja a ultima brasileira patriota, valeu a pena viver para ler o texto.
De alguém que ama muito o Brasil.'
Divina de Jesus Scarpim
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