segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Amor e o Velho Barqueiro

Chegando, finalmente, à margem do
grande rio, o Amor avistou três
barqueiros que estavam indolentes,
recostados às pedras.

Dirigiu-se ao primeiro:

- Queres, meu bom amigo, levar-me
para a outra margem do rio?

Respondeu o interpelado, com voz
triste, cheio de angústia:

- Não posso, menino!
 É impossível para mim!

O Amor recorreu, então, ao segundo
barqueiro, que se divertia em atirar
pedrinhas ao seio tumultuoso
da correnteza.

- Não. Não posso - respondeu secamente.

O terceiro e último barqueiro, que
parecia o mais velho, não esperou que o
Amor viesse pedir-lhe auxílio.

Levantou-se tranqüilo e, estendendo-lhe
bondoso, a larga mão forte, disse-lhe:

- Vem comigo, menino!
Levo-te sem demora para o outro lado.

Em meio da travessia, notando o Amor, a
segurança com que o velho barqueiro
navegava, perguntou-lhe:

- Quem és tu?
Quem são aqueles dois que se
recusaram a atender o meu pedido?

- Menino - respondeu paciente o bom
remador - o primeiro é o Sofrimento.
O segundo é o Desprezo.
Bem sabes que o Sofrimento e o
Desprezo não fazem passar o Amor.

- E tu, quem és, afinal?

- Eu sou o Tempo, meu filho - atalhou
o velho barqueiro.
Aprende para sempre a generosa verdade:
Só o Tempo é que faz passar o Amor!

E continuou a remar, numa cadência
certa, como se o movimento de seus
braços possantes fosse regulado por
um pêndulo invisível e eterno.

"O Tempo, e só o Tempo, é que faz
passar o Amor!"

Malba Tahan

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